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mariarmplima

Maria Ribeiro Machado Pedroso de Lima | 26 | Arquitecta Portugal | mariarmplima.tumblr.com

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Maria Ribeiro Machado Pedroso de Lima | 26 | Arquitecta Portugal | mariarmplima.tumblr.com

São Pedro de Atacama

Terminei o mês de Janeiro com muito trabalho e iniciei Fevereiro com algum stress, tentei sempre relativizar as coisas mas muitas das vezes quando queremos simplificar...o conforto (o nosso maior aliado) é necessário ter por perto, ou pelo menos as pessoas que nos dão mais força.

A oportunidade de ir a São Pedro de Atacama surgiu sem grande planeamento, mas mesmo assim tentei organizar-me o máximo possível para ter uma noção geral do tempo, das tours e economicamente quanto iria ser necessário despender. Em Março partilho com vocês com mais detalhe toda a planificação, para que possam ter uma ideia.

Viajar sozinha sempre me pareceu difícil, ainda mais na América do Sul, contudo ter um mês de férias e não aproveitar para conhecer mais um pouco era deitar ao lixo uma boa oportunidade. E verdade, seja dita, nós nunca estamos sozinhos. Partiho com vocês um bom episódio em São Pedro de Atacama quando estava num café a tomar um maravilhoso café e há um cliente que diz para a rapariga que trabalhava “estás sozinha hoje?” e ela responde “sozinha?! tenho a casa cheia!”. A nossa perspectiva de ver as coisas ajuda muito no nosso caminho, estar sozinho nos dias de hoje é bem mais difícil do que acreditam.

 Quando iniciei o ano de 2018, pensei muito se deveria realizar as viagens. Mas prometi a mim mesma que o iria fazer, sim coloca algum respeito na primeira vez que o fazes mas depois não queres outra coisa. Por um lado tinha muita vontade, sabia que a oportunidade de o fazer não voltaria a ser tão breve e ainda mais, tenho valorizado muito o meu espaço - cada vez gosto mais de passar tempo comigo mesma - gosto de poder desfrutar das coisas sem palavras.
Viajar sozinha é isso mesmo, é não ter que planear nada se não contigo mesma. É olhar para as coisas com a tua perspectiva e em silêncio. Foi realmente uma experiência diferente e muito positiva.

 

Saí cedo de Santiago com destino a Calama, onde apanhei transporte para São Pedro de Atacama. Na viagem conheci L., uma australiana, super simpática e que também viajava sozinha. Conversámos durante a viagem e ainda nos rimos, porque viajar sozinha tem um senão...quem é que nos tira as fotografias nos lugares ícones? Resumindo, ou fazes selfie ou tens que pedir a alguém que esteja por perto.

Quando cheguei a São Pedro de Atacama, a informação era geral...”as tours estão todas canceladas, devido ao inverno boliviano”. Não fui apanhada de surpresa, porque apercebi-me deste dilúvio já em Santiago, contudo já era tarde para cancelar voos e visitas pelo deserto de Atacama. Decidi arriscar.

Tive muita sorte, porque o tempo começou a mudar durante a minha estadia. No primeiro dia visitei o Vale da Lua, foi o primeiro contacto com o deserto e estava um calor de morte. Conheci os lugares mais visitados e caminhamos. A tour terminou, quando começou a chover. Informou-me o guia que quando chove no deserto é muito perigoso as pessoas manterem-se aí, porque com a chuva vêm as tormentas e os dilúvios. Os raios nestes lugares chegam até ao solo, por não existirem pára-raios e porque são zonas muito magnéticas pelos seus minerais.

Cheguei a São Pedro completamente sem energia, confirmei a tour para o dia seguinte e a que eu tinha planeado não estava apta para ser realizada (devido às chuvas). Decidi realizar outra, Vale do Arco Íris que iniciava às 7h da manhã. Ir a São Pedro e ficar parada é que não. No deserto não se dorme, as tours começam muito cedo e por vezes tomam o dia todo ou trocas de tour à hora de almoço. É cansativo mas muito gratificante porque sem dúvida têm as melhores paisagens do mundo.

Depois do Vale do Arco Íris visitei a Laguna Cejar, que não me impressionou muito. É um lugar muito bonito mas que infelizmente devido ao turismo tornou-se aquilo que não deveria...uma pequena praia de férias no deserto. Para além da entrada neste parque protegido ser cara, a quantidade de pessoas que entram na lagoa principal todos os dias é impressionante. Por esta razão, a famosa espécie de flamingos cada vez se afasta mais deste lugar. Fiquei com a esperança reduzida de encontrar flamingos nesta viagem, sendo a Laguna Cejar um dos lugares mais propícios a encontrá-los.

Quando cheguei a São Pedro, já quase sem bateria, decidi ir visitar o centro histórico. Entrei na igreja principal que está localizada na praça central, contruída em adobe apresenta planta simples e o espaço interior é realmente muito interessante. A construção mais antiga desta aldeia é realizada com terra e feno (comida de cavalo), onde por vezes a esta mistura é adicionada uma resina natural dos cactos. Normalmente a base de todas as construções é constituída por pequenas pedras amontoadas, para que reforce toda a estrutura e também por questões de degradação futura devido às extremas condições climáticas. As portas na cor azul, recordaram-me o meu Alentejo. Uma aldeia simples, onde se vive de forma muito básica e com condições extremas. As pessoas são amáveis mas o custo de vida neste lugar é muito caro.

O hostal foi uma belíssima surpresa, encontrei-me com uma casa de família que foi recuperada e estruturada para começar a receber viajantes. A construção em terra era visível e R. era muito amável. Foi um lugar sem grande luxos mas onde de facto é possível nos sentirmos em casa. A vista do espaço exterior sobre o vulcão Licancabur, era impressionante. Ainda tive a sorte de conhecer dois portugueses que seguiram para a Bolívia. 

No terceiro dia, tive a melhor tour desta viagem...ao Salar de Tara. O grupo era extraordinário e as duas famílias chilenas presentes adoptaram-me automaticamente. 

Foi sem dúvida um dia sem palavras, amanheci com um frio de inverno a tomar pequeno-almoço ao lado do vulcão Licancabur; almocei sobre uma lagoa de cortar a respiração com um sol quente de deserto e onde conheci um senhor que vivia numa pequena casa de pedra sobre a lagoa, fiz questão de lhe dizer que tinha a melhor localização do mundo para viver – ofereceu-me um sorriso simpático; partimos deste lugar e quando estávamos quase a chegar a São Pedro começou a nevar. Quase a 5000 metros de altitude sobre o mar as condições de vida são como se dizia em terras catalãs “una pasada!”. Subir a esta altitude não é tarefa fácil, terminei o dia com uma dor de cabeça muito forte e nestas subidas é aconselhável beber muita água, chá de coca e comidas leves. Respirar fundo também ajuda muito. 

No último dia, estava prevista a visita aos Gêiseres de Tatio, um lugar suberbo mas que infelizmente não tive a oportunidade de conhecer. As chuvas danificaram muitas estradas até a alguns pontos turísticos e este não foi excepção. Como havia segunda opção, decidi visitar as Lagoas Antiplánicas e aí sim, onde a esperança já era nula...consegui ver flamingos. Foi uma boa despedida deste lugar tão variado em paisagens e maravilhoso, as fotografias que publico não apresentam nem metade daquilo que conseguimos ver com os nossos próprios olhos. É um lugar impressionante e demasiado bonito.

Para uma viagem que comecei a percorrer sem companhia, voltei com um grupo de chilenos e mexicanos muito simpáticos. É isto, que me faz cada vez mais valorizar aqueles que nos abrem os braços, aqueles que podem ter pouco mas dão tudo, aqueles que tu menos esperas encontrar e mudam os teus momentos para uma memória que quererás ter sempre presente.

Obrigada São Pedro, pelas pessoas e por todos os segundos que vivi aí. Paisagens como as tuas não existem em mais nenhum lugar do mundo.

 

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Maria

 

 

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